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Colheita do Capim Dourado reúne tradição secular do Mumbuca

21 de Setembro de 2021 | Noticias
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Do Povoado Mumbuca para o mundo: o capim dourado representa mais que beleza, mas representa também a cultura do povo quilombola do Jalapão. A colheita é um momento de reunião e concentração de tradições únicas, quando os moradores vão para as veredas e colhem o ouro do cerrado.

 

 

O amor ao capim dourado, a união de tradições, as cantorias em homenagem a amada Dona Miúda: assim é a colheita do “ouro do cerrado”, uma inexplicável união de sensações e emoções para quem é do Povoado Mumbuca, bem como para os visitantes que prestigiaram a colheita.

O dia começa bem cedo para quem acompanha as atividades. Uma das líderes das artesãs mais antigas é Dona Noemi, a Doutora, como é chamada por todos. Ela é a alegria da comunidade e essencial para a colheita. Tem 62 anos e desde os 12 aprendeu com a mãe, Dona Miúda, a arte de colher e costurar o capim.

“Nós saíamos bem cedinho para a vereda. Mamãe fazia o café, fazia o beiju para podermos sair pela manhã. Essa é uma arte linda, a gente tem que ter calma para colher, tem o dia certo, mas tem gente que só quer o dinheiro, não tem respeito pela natureza e maltrata a raiz. Até o jeito de colher pode esvaziar o campo. Quando a gente colhe direito o vento mesmo espalha a semente”, explicou.

Ela conta que uma das piores tristezas que já sentiu foi ver o fogo destruindo a natureza, junto com o capim. “Isso é um desastre, destrói tudo, dói na gente. O capim está diminuindo, está muito raleado, tem campo que a gente colhia que já não tem mais. Aqui no Mumbuca a gente colhe com amor, responsabilidade”, conta Doutora, ao demonstrar sua preocupação.

O refrão da canção “Meu Capim Dourado” ecoa pelos campos das veredas no dia da colheita. As vozes das mulheres fortes do Mumbuca interpretam a mais sublime canção que demonstra o amor ao capim, a verdadeira homenagem à Dona Miúda e fortalecem a tradição a cada geração. De senhoras que conheceram a arte, às meninas que estão aprendendo, a colheita é o ápice da festividade.

 

TRADIÇÃO  

Sirlene Matos é artesã e professora. Na colheita a quilombola reforça os laços de amor em torno do capim. “Para mim isso representa o pão na mesa, a alma viva do Criador, pois sabemos que foi Deus quem criou e deu aos nossos antepassados a inteligência de colocar isso em arte, em joias, e produzir. Digo para mim mesma: você foi escolhida para fazer parte dessa história”, afirmou.

Sirlene aprendeu a costurar o capim aos 10 anos com tia Doutora, como ela relata e se emociona ao relembrar. “Tive bastante dificuldade porque ela é uma professora rígida. Minha primeira peça foi quando comprei uma sandália, dando um passo para me tornar independente, porque foi minha primeira peça. Esse é um processo de aperfeiçoamento. A gente ensina para as crianças, mas aqui ninguém é obrigado a aprender, é algo que vem de dentro da gente. Mas todos que nascem no quilombo tem vontade de aprender. Estar com Doutora no campo é um privilégio muito grande. A gente sabe que ela já está nesta idade, mas tem uma força, uma garra, e isso transmite para nós uma responsabilidade muito grande de continuar com a tradição e com a história do capim dourado”, disse a artesã.

 

CONTRIBUIÇÃO

O prefeito da Cidade, pastor João Martins, participa da festa e reforça que o turismo do Jalapão deve muito ao capim dourado. “Fico muito feliz em contribuir com a comunidade. O capim trouxe o pão de cada dia, o alimento, a sustentabilidade. Tudo está chegando pelo capim dourado, o desenvolvimento, gerando uma fonte de renda para as comunidades. Isso não tem preço que pague, ver com os próprios olhos o trabalho das pessoas que tem cultivado e passado isso para as gerações”, disse.